Em continuidade ao artigo anterior, vamos focar em dois pontos
extremamente importantes no processo de conhecimento do coração paterno de Deus:
(1) Precisamos entender e reconhecer nossa verdadeira filiação e (2) Precisamos
conhecer as características e papéis de nosso pai.
Não posso começar a exposição do item 1 sem, antes, discorrer sobre a
necessidade de se entregar a Jesus como Senhor e Salvador para a efetivação das
verdades que serão ditas. Digo isto porque há uma grande mentira dita por aí a
fora de que todos são filhos de Deus. Isso, em absoluto, não é verdade. Explico:
é que segundo a Palavra de Deus (Jo 1:12) todos são criaturas de Deus; filhos
são, tão-somente, aqueles que creram e receberam ao Senhor Jesus como Senhor e
suficiente Salvador. Vamos discorrer sobre esse ponto mais à frente.
Nesse momento, quero enfatizar que nossa filiação celestial antecede
nossa filiação terrena. Você foi escolhido por Deus desde o ventre de sua
mãe e Ele já traçou os planos Dele para sua vida (não vou entrar aqui na
discussão sobre como se dá a predestinação, mas que ela é bíblica isso é ponto
pacífico). Assim, para você que é filho de Deus (mais à frente direi o que isso
significa), o importante é saber que sua filiação celestial é anterior à sua
filiação terrena. Mas o que isso significa? Veja o que o John Dawson escreveu sobre o assunto:
“O seu Pai celestial estava presente quando você deu os primeiros
passos, quando criança. Ele estava presente quando você sofreu mágoas e
decepções. Ele está presente agora mesmo. Por um breve período, você foi
emprestado a pais terrenos que deveriam tê-lo cercado de amor semelhante ao do
Pai Celeste. Mas você é e sempre será um filho de Deus, feito à sua imagem.
Seu Pai Amoroso o espera, ainda agora, com braços estendidos. O que poderia
mantê-lo afastado dele?” (grifo nosso)
Na verdade, como dito acima, nossos pais terrenos apenas nos recebem “emprestados”
de nosso Pai Maior para refletirem em nossas vidas um modelo do Seu amor, ou
seja, ainda que seus pais terrenos tenham falhado com você, saiba que antes
deles, seu Pai celestial te ama, está com você e nunca te deixou sozinho!
Como John Dawson magistralmente declarou: “Não se ressinta das falhas de seus pais
terrenos. Eles são apenas crianças que cresceram e tiveram outras crianças. Antes,
alegre-se no amor maravilhoso de seu Deus Pai.” (grifo nosso)
Somente ao entendermos nossa verdadeira filiação é que conseguimos
conhecer o Coração Paterno de Deus e, ao mergulharmos nessa profunda revelação,
sabemos quem somos (porque sabemos de onde viemos). Ao sabermos realmente quem
somos, podemos de forma real entender o verdadeiro propósito de nossas vidas
aqui nesta Terra.
Retornando à questão do que significa ser filho de Deus, entenda que a
transformação de criatura para filho não é apenas uma mudança terminológica. Ser filho significa
ter acesso ao Pai, intimidade com o Pai e,
sobretudo, ser parte na herança do Pai. Quando recebemos a Jesus
como Senhor e Salvador, e, por conseguinte, passamos a ser filhos de Deus, o
acesso ao Pai nos é liberado de forma plena e suficiente; além disso, passamos
a gozar de intimidade com o Pai por meio do Seu Espírito Santo que em nós passa
a habitar; por fim, ser filho significa ter parte na herança do Pai que, no
nosso caso, significa irmos para o céu. Assim, só tem acesso, intimidade
e herança quem é filho, e só é filho quem tem o Senhor Jesus como seu único e
suficiente Salvador.
Com relação ao segundo ponto
deste artigo – Precisamos conhecer
as características e papéis de nosso pai – é necessário sabermos que a figura paterna desempenha papéis
importantíssimos na formação da identidade de seus filhos. A figura materna
também tem suas funções precípuas, mas, nesse artigo quero me ater aos papéis
da figura do pai.
O primeiro papel inerente à
figura paterna é a função de direcionar o filho. Toda criança
cresce a partir de um modelo de imitação e, cabe ao pai, direcionar, ainda que inconscientemente,
os seus filhos. Quantos filhos querem ser exatamente o que os pais são, que
falam como os pais, que até andam como os pais? Ao pai cabe o direcionamento de
seus filhos! Se você não teve qualquer direção em sua vida em função de uma ausência
paterna, veja o que o seu Pai te diz: “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito diz o Senhor;
pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. Jr 29:13
Outro papel atinente ao pai é o
papel de proteger o filho. Quantas crianças, ao serem ameaçadas,
logo dizem: “vou contar para o meu pai!”? O pai reflete lugar de
segurança e proteção. Quando temerosos, os filhos de pronto correm para o colo
de seus pais. Muitas vezes, o medo sem explicação tem origem na falta da figura
paterna, mas veja o que o seu Pai celestial te diz: “Não temas, porque eu sou contigo;
não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço,
e te ajudo, e te sustento com a minha destra
fiel. Eis que envergonhados e confundidos serão todos os que estão
indignados contra ti; serão reduzidos a nada, e os que contendem contigo perecerão”. Is 41:10,11
Cabe, ainda, ao pai o papel de estabelecer
limites ao filho. Pais que criam seus filhos sem limites lhes fazem
grande mal. Bem verdadeira, conquanto não absoluta, é a alcunha de que pai
que não disciplina seus filhos o verão serem disciplinados pelo mundo. Observe,
por exemplo, um estuprador: geralmente a pessoal que comete um estupro não
aceita, de forma alguma, uma resposta negativa contra si. Isso, muitas vezes,
ocorre por que cresceram e aprenderam dos pais que podiam ter tudo o que
desejassem. Como essa “verdade” veio de uma figura de autoridade e que tem
papel gigantesco na formação da identidade da criança, isso se torna de tal
tamanho que a pessoa simplesmente acredita que nada lhe pode ser negado. Lógico
é que muitos outros fatores influenciam nessa conduta, mas é inegável que falta
de limites em muito contribui.
Filhos que são criados podendo
fazer tudo o que desejam, no fundo de tudo, sentem-se abandonados. Sentem-se
como como se não fossem importantes para seus pais. Por outro lado, veja como o
nosso Pai celestial nos trata: “Filho meu, não menosprezes a
correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o
Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. Hb
12:5,6”
O penúltimo papel que é desempenhado
pelo pai é o de afirmar a identidade dos filhos. Cabe ao pai,
principalmente, porém não exclusivamente, afirmar a identidade de seus filhos. É
o pai que diz o quanto seu filho é um verdadeiro campeão, o quanto sua filha é inteligente,
especial, o quanto ela é a princesa do papai! Meninas que tiveram um pai que
afirmava sua identidade muito dificilmente se envolverão com homens de baixo
caráter. Vemos, não raramente, mulheres lindas e cheias de potencial se envolvendo
com verdadeiros “atrasos”. Isso ocorre, com certa frequência, pelo fato de seus
pais serem bem parecidos com esses pouco promissores pretendentes e por não
terem afirmado a identidade de suas filhas, o que as impede de verem seu
próprio valor.
Observe, a título de exemplo,
uma mulher vulgar (não falo de mulher bonita, mas de mulher vulgar. São duas
coisas bem diferentes). É comum mulheres vulgares apresentarem problemas sérios
de baixa autoestima. Justamente por não enxergarem o quanto elas são bonitas e
especiais, elas “têm” que mostrar seus corpos de forma lasciva para que alguém
diga a elas o que elas mesmas não veem, ou seja, o quanto elas são lindas. Ocorre
que o elogio proveniente da vulgaridade é cheio de luxúria e, não raramente,
eivado de segundas intenções. Nesses casos,
nem ela mesma consegue entender a razão de não se ver como alguém especial; não
consegue perceber que isso é consequência da falta de afirmação paterna enquanto
ainda criança. Uma criança que recebe palavras de afirmação de seu pai cresce
bem resolvida, sabendo qual é o verdadeiro valor que tem.
Quantos conhecem pessoas
inteligentíssimas que, na hora de uma prova de concurso, simplesmente tem um “branco”?
São pessoas altamente capacitadas, mas não conseguem vencer o gigante da aprovação.
Às vezes, isso também tem origem na falta de uma palavra de afirmação paterna,
ou pior, uma palavra de destruição dirigida pelo pai, como: você é muito
burro! Não serve para nada! Nunca vai ser nada na vida! Não vai dar pra
prestar... e por aí vai. Como essas palavras vêm de pessoas com alto grau
de importância na formação da identidade da criança, ela acaba por ter isso
como verdade, como uma camada de formação da sua personalidade e, na hora do
desafio de uma prova, ela se auto sabota, já que seu cérebro acredita
veementemente que ela nunca vai ser ninguém e passa a agir como tal. Se você
não teve palavras de afirmação durante sua infância, veja o que o seu Pai
te diz: “Pois assim diz o Senhor dos Exércitos: Para obter ele a glória,
enviou-me às nações que vos despojaram; porque aquele que tocar em vós toca na
menina do seu olho”. Zc 2:8
Por fim, o quinto e último papel
inerente à figura paterna que desejo compartilhar é o de estar disponível
ao filho. Existem muitos que são órfãos de pais vivos. Explico: muitos
filhos se sentem abandonados pelos pais mesmo morando debaixo do mesmo teto que
eles. Estar disponível significa ter tempo de qualidade, dar atenção,
conversar, passear, compartilhar as dores e alegrias. Se você não teve seu pai biológico
presente, veja o que o seu Pai celestial te diz: “Acaso, pode
uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do
filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu,
todavia, não me esquecerei de ti”. Is 49:15
Saiba que nosso Pai celestial
supre todas as lacunas deixadas por nossos pais terrenos. Que antes de tudo
somos Seus filhos e é a Ele que nossa identidade deve apontar com todas as suas
forças; é Dele que vêm nossas estruturas e é para Ele que olhamos para enxergarmos
a nós mesmos!
Até o próximo artigo...
Hélio Roberto.
Referências:
DAWSON, John. O coração
paterno de Deus. Belo Horizonte:
Editora Betânia. 2009. 24 p.