“Não rogo somente por estes, mas
também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a
fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam
eles em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” Jo 17:20,21
É comum ouvirmos ministrações
sobre a Pessoa do Filho (Jesus Cristo) em nossas Igrejas. Não tão comum é ouvirmos
mensagens que revelam a natureza da pessoa do Espírito Santo. Mais raras ainda são
as mensagens que manifestam qual deve ser o nosso relacionamento com o Pai. Isso
acaba por gerar uma série de consequências sobre a membresia da Igreja. É que, não
obstante todo aquele que confesse o Senhor Jesus como Salvador seja salvo, há,
ainda, questões que afligem a alma do povo de Deus que precisam ser definitivamente
curadas.
Eu, particularmente (e eu só consegui perceber
isso há pouco tempo) via muito a Deus como Senhor e pouco como Pai. É que, como
tenho aprendido recentemente, toda criança cresce a partir de um modelo de
imitação. Quantos filhos falam exatamente como os pais; desejam ter a mesma
profissão do pai, afinal, o pai é o verdadeiro super-herói na vida dos filhos,
ou ao menos deveria ser. No meu caso, não tive esse modelo. Meu pai saiu de
casa quando eu tinha apenas 1 ano e meio. Minha mãe me contou posteriormente que
quando ele foi embora, eu tive febre e cheguei a dormir abraçado com o chinelo
dele (eu não me lembro desses fatos, dado a tenra idade).
Em função disso, pela ausência do
modelo paterno na formação de minha identidade, depois de me converter não conseguia
entender a profundidade da paternidade de Deus, conquanto repetisse que Deus é Pai.
Pude perceber isso ao observar minhas orações, nas quais a palavra “Senhor” era
bem frequente, enquanto o termo “Pai” era raríssimo!
Essa falta de referência paterna
me resultou diversos problemas emocionais. Desde ansiedade a alguns medos e
inseguranças estavam ligados à figura paterna, ou melhor, à sua ausência. Registro,
porém, que minha mãe foi e é uma verdadeira gigante! Dentro de suas limitações,
deu o seu melhor para criar seus 3 filhos. Como tive que “me virar sozinho” boa
parte de minha vida, apeguei-me ao conhecimento como sinal de força e fundei
minhas estruturas nessa característica. Isso fez de mim uma pessoa um tanto
quanto arrogante, que odiava perder um debate e, por vezes, acabava por ser
implacável e pouco tolerante com as pessoas. Por outro lado, esse “conhecimento”
passou a agir contra mim mesmo, já que o meu excesso de questionamentos sobre
meu estado de alma acabava por me colocar em uma espiral de pensamentos que em
muito me angustiavam e confundiam. Pude entender, na própria pele, o que Salomão
quis dizer quando escreveu: “Confia no
Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento.”
Pv 3:5
Embora eu já fosse salvo em Cristo Jesus, havia uma lacuna em minha
alma, ligada diretamente à formação da minha identidade, que precisa ser
tratada por Deus. Foi a partir desse cenário que o Senhor pegou em minha mão e
me conduziu ao deserto da cura.
Quero deixar claro que Deus trata cada filho de forma individual e
personalíssima, ou seja, o processo de cura de cada um é único, embora os
princípios sejam os mesmos. Deus nos trata na medida certa do que precisamos
ser tratados.
O primeiro passo pelo qual tive que passar foi o perdão. Antes de
conhecer Jesus eu simplesmente não conseguia perdoar o meu pai. Após entender
que mesmo sendo indesculpável diante de Deus pelos meus pecados Ele me havia
perdoado, pude compreender a beleza do amor do Pai celestial e, então,
compartilhar desse mesmo amor perdoador com meu pai terreno. Esse foi o 1º e
importantíssimo passo para a restauração de minha alma. Hoje tenho um excelente
relacionamento com o meu pai, e o amo com todo o meu coração!
Todavia, havia muitos pontos de minha identidade que tinham ficado
doentes pela ausência paterna e que precisavam ser restaurados. Conquanto o relacionamento
com o meu pai tenha sido reatado, eu não podia voltar no tempo de minha
infância e inseri-lo lá, já que lá ele não estava. Assim, embora o perdão fosse
indispensável, ele era apenas o 1º passo no processo de cura de minha alma.
Nesse bojo, o mais difícil para mim foi entregar o processo
completamente nas mãos do Pai. Veja, como disse acima, minha grande “arma”
sempre foi o conhecimento. O conhecimento te dá certo “controle” sobre algumas
coisas, e esse pseudo controle supria, ou tentava suprir, em
minha alma a falta da segurança advinda da figura paterna. Tive que me render,
literalmente, diante do Pai e dizê-lo: “Entrego o controle em suas mãos! Conduza-me pelo processo que preciso
passar, ainda que seja um vale, pois confio inteiramente que o Senhor é o meu
Pai e me fará enxergar e viver o que preciso para ser completamente restaurado!”
Irmãos, como isso foi difícil para mim! Não que eu não confiasse em
Deus, mas entregar o controle me trazia uma sensação de vulnerabilidade, e era
justamente isso que o Pai queria tratar em minha alma, ou seja, que eu não
precisava temer, afinal, o controle estava nas mãos Dele!
Nesse processo, o Pai tem me levado a conhecer as maravilhas de Seu
coração!
Nos próximos artigos, continuarei compartilhando como a figura de Deus
Pai pode suprir lacunas na alma geradas pela figura do pai paterno, trazendo alegria,
felicidade, cura, e aquilo que mais buscamos: paz!
Não perca! Até o próximo artigo...
Hélio Roberto.