Onde está nosso senso de coletividade no tocante à questão tributária?
Como dizia C. S. Lewis, o Cristianismo é puro e simples. O problema é
que nós, pela dificuldade de abdicarmos de nossas vontades e desejos,
tentamos relativizar as verdades de Deus, apresentando
pseudo-justificativas às nossas condutas contrárias à Palavra e ao
padrão de Deus.
Nesse breve artigo,
quero tratar de um ponto bem controverso, mas que se enquadra
perfeitamente no parágrafo introdutório acima: a questão do dever de pagar impostos.
Certa feita, com fim de experimentar Jesus, herodianos e fariseus perguntaram-lhe se era lícito pagar impostos: “Dize-nos, pois: que te parece? É lícito pagar tributo a César ou não?” Mt 22:17. Por
detrás da pergunta formulada, havia a intenção de contrapor Jesus
perante determinados grupos organizados da época. É que se Jesus
dissesse que era lícito, os judeus se levantariam contra ele sob o álibi
de que Jesus se submetia inteiramente ao governo de César. Por outro
lado, se Jesus dissesse que não era lícito pagar impostos, estaria se
associando aos zelotes, grupo revolucionário que se opunha a César, e
que era majoritariamente rejeitado pelo povo. Entretanto, a resposta do
Mestre foi fenomenal por dois motivos: (1) Jesus conseguiu deixar os
seus inquiridores sem resposta; e (2) Jesus nos ensinou que o fato de
sermos cidadãos celestiais não anula nossos deveres como cidadãos na
Terra. Vejamos a resposta: “Mostrai-me a moeda do tributo.
Trouxeram-lhe um denário. E ele lhes perguntou: De quem é esta efígie e
inscrição? Responderam: De César. Então, lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” Mt 22:19-21.
Passando
ao cerne do artigo em comento, analisemos a questão do dever de pagar
impostos por parte daqueles que são filhos de Deus.
Indo direto ao ponto, o que falta àqueles que se eximem dessa obrigação é, em primeiro lugar: temor a Deus, e em seguida: um verdadeiro senso de coletividade.
Explico.
Quando digo que falta temor a Deus significa que os cristãos devem
cumprir suas obrigações cívicas por amor e temor a Deus, antes de tudo!
Devemos dar bom testemunho como filhos de Deus, além de nos submetermos
às autoridades e regras impostas por quem de Direito, desde que não
contrariem a Palavra de Deus: “Toda a alma esteja sujeita às
autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e
as autoridades que há foram ordenadas por Deus. Por isso quem resiste à
autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre
si mesmos a condenação.” Rm 13:1-2
Como
pode alguém que se intitula cristão sonegar imposto de renda, por
exemplo? Arrumar falsos recibos de médicos ou dentistas para fraudar a
Receita Federal? Tolos e hipócritas! Acham mesmo
que Deus não está vendo? Estão tão embebecidos em suas consciências
cauterizadas pelo pecado que nem mesmo conseguem ver a profundidade de
seus erros, e não estou nem entrando na questão da mentira em si.
Veja que vexame: um crente em Jesus, pelos motivos do parágrafo anterior, ser pego na “malha fina”
pelo órgão fazendário! Com que moral ou autoridade poderemos exortar e
confrontar o pecado se muitos de nós sequer cumprem com suas obrigações
cívicas? Esse “evangelho de groselha”, fraco, sem consistência e sem mudança de caráter não é o evangelho de Jesus Cristo que durou 2.000 anos!
Outrossim, falta também verdadeiro senso de coletividade. Raramente se vê a questão dos impostos com os “óculos”
da coletividade. Veja, quando não se exige o cupom fiscal na padaria ou
na farmácia, ou em qualquer outro lugar, é comum que se pense o
seguinte: “esse pobre comerciante já paga tantos impostos! Não vou pedir o cupom fiscal. Vou ajudá-lo”. Esse
tipo de pensamento está equivocado por dois motivos. Primeiro porque no
preço dos produtos já estão embutidos os impostos. Segundo porque
quando se deixa de exigir o respectivo cupom fiscal, e, por conseguinte,
o regular recolhimento dos impostos por parte do comerciante, está a se
lesar toda a coletividade. Veja, você não está beneficiando o vendedor
ao fazer isso,
você está prejudicando toda a sociedade. Entenda que os impostos
recolhidos têm como finalidade a efetivação de políticas públicas que
beneficiam toda a sociedade, principalmente os mais carentes que, em sua
maioria, dependem dos serviços públicos de saúde e educação, por
exemplo.
Quando você deixa de exigir o regular recolhimento
tributário por parte do comerciante (por meio da emissão do cupom
fiscal), o que você está fazendo é contribuindo para que não haja
ambulâncias, viaturas, computadores nas escolas e vacinas nos postos de
saúde. Não se engane, você é tão responsável por não exigir a nota,
quanto aquele que deixa de emiti-la.
Observe a questão teleológica1
das ações do Governo de alguns estados quanto à questão tributária. Em
alguns estados, como ocorre aqui no Distrito Federal, o Governo
implementou uma política
de incentivos ao cidadão que insere o seu CPF no cupom fiscal. Segundo
essa política pública, parte do imposto recolhido é revertido
individualmente àquele que exigiu a emissão do cupom fiscal e inseriu o
seu CPF.
Veja, é necessário que o Governo incentive as pessoas a
exigirem os cupons fiscais tocando em um dos pontos mais decadentes do
ser humano: o individualismo. Sabendo que as pessoas se preocupam,
originariamente, com seus próprios “umbigos”, o Governo direciona as
pessoas a exigirem os cupons fiscais, ao estimular características
egocêntricas do ser humano, afinal, eu vou exigir o cupom fiscal porque
terei desconto no meu IPVA ou no meu IPTU. Percebe o individualismo?
Não
estou dizendo que você não deva aderir a essas políticas públicas
implementadas. O que estou dizendo é que, antes de pensar em receber
algo para si mesmo, pense nos benefícios que serão trazidos à toda
coletividade. Exija o regular recolhimento dos impostos devidos por
consciência cívica de que estes impostos beneficiarão todo o país, em
especial os mais carentes. Traga em seu coração a preocupação coletiva
antes da individual. Se somos cerca de 40% da população brasileira
(evangélicos), devemos começar a tomar atitudes que verdadeiramente
mudarão a realidade de nosso país. Vivamos Cristo em nosso dia-a-dia.
É
bem verdade que a carga tributária brasileira é altíssima. Mas não é
sonegando que esta questão será resolvida. Isso será resolvido por meio
de educação cívico-política, em que, pelo exercício legítimo da
cidadania, conseguiremos influenciar as normas e leis de nosso país.
Por fim, é comum ouvirmos, daqueles que não querer arcar com o dever de pagar impostos, justificativas como: “os políticos utilizam nossos impostos para corrupção”. Mas será mesmo que o erro da corrupção deve ser motivo suficiente para que incorramos no erro da sonegação? Penso veementemente que não!
Que Deus te abençoe grandemente, em nome de Jesus!
Grande Abraço,
Hélio Roberto.
Referências:
1. Método interpretativo que visa a entender a finalidade e o objetivo de uma norma.
1. Método interpretativo que visa a entender a finalidade e o objetivo de uma norma.
Fonte: Artigo escrito para o site GospelPrime.
Muito bom artigo, de fato você tem razão acerca desse assunto. Pedirei meu cupom fiscal, pelos motivos corretos. Observo que a corrupção dos políticos é um grande obstáculo para que eu solicite meu cupom fiscal,mas farei minha parte quem sabe eles, também, farão a parte deles como: construir escolas, hospitais, rodovias etc.
ResponderExcluirArtigo muito bem fundamentado. Parabéns. O cristão precisa exalar o perfume de Cristo. Necessita sobretudo, em dar bons exemplos.
ExcluirAmém meu irmão! Façamos nossa parte!
ExcluirEsse texto vai mais profundo que uma tributaçao como a que vivemos hoje, a rigor a questão inserida social e histórica desse texto vai mais profundo. A controversia era se os filhos deveriam pagar tributos a Roma por uma dominação imperialista. Aqui um sentimento de inssurreiçao da parte de Israel, tornando a resposta de Cristo mais radical.
ResponderExcluirTrazendo aos nossos dias coloca o Cristao em questaoes mais delicadas a serem analisadas do ponto de vista da Etica Cristã. Pontos esse que deveriamos abordar e discutir melhor em nossas igrejas e aumentar o nivel de nosso cristianismo atual. Uma ressalva apenas e que cair na malha fina pode ser por causa outras e nao somente por sonegaçao, da parte declarante, mas erro, por exemplo, da parte da fonte pagadora. A generalizaçao pode ser injusta. Mas otimo texto.
Foi justamente esse o ponto do artigo. Se Jesus disse que era lítico, contrariaria os judeus (os filhos); se dissesse que não, se "associaria" aos zelotes, grupo insurgente. Quanto ao cair na malha fina, o parágrafo anterior explicava os os motivos, mas, ainda assim, fiz uma referência ao parágrafo anterior para ficar mais claro. Graça e Paz pastorzão!
ExcluirMuito bom. Confesso que já deixei de pedir a nota com a desculpa em mente, tal qual, a descrita.
ResponderExcluirDe fato, há progresso individual e coletivo, se eu pensar e agir sempre movido pela minha dupla cidadania: a celestial e a terrena.
Muito bom Hélio.
Deus continue te usando jovem.
Amém Pastor! Glória a Deus!
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