segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

O Coração Paterno de Deus – Parte 1



“Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” Jo 17:20,21


É comum ouvirmos ministrações sobre a Pessoa do Filho (Jesus Cristo) em nossas Igrejas. Não tão comum é ouvirmos mensagens que revelam a natureza da pessoa do Espírito Santo. Mais raras ainda são as mensagens que manifestam qual deve ser o nosso relacionamento com o Pai. Isso acaba por gerar uma série de consequências sobre a membresia da Igreja. É que, não obstante todo aquele que confesse o Senhor Jesus como Salvador seja salvo, há, ainda, questões que afligem a alma do povo de Deus que precisam ser definitivamente curadas.

 Eu, particularmente (e eu só consegui perceber isso há pouco tempo) via muito a Deus como Senhor e pouco como Pai. É que, como tenho aprendido recentemente, toda criança cresce a partir de um modelo de imitação. Quantos filhos falam exatamente como os pais; desejam ter a mesma profissão do pai, afinal, o pai é o verdadeiro super-herói na vida dos filhos, ou ao menos deveria ser. No meu caso, não tive esse modelo. Meu pai saiu de casa quando eu tinha apenas 1 ano e meio. Minha mãe me contou posteriormente que quando ele foi embora, eu tive febre e cheguei a dormir abraçado com o chinelo dele (eu não me lembro desses fatos, dado a tenra idade).

Em função disso, pela ausência do modelo paterno na formação de minha identidade, depois de me converter não conseguia entender a profundidade da paternidade de Deus, conquanto repetisse que Deus é Pai. Pude perceber isso ao observar minhas orações, nas quais a palavra “Senhor” era bem frequente, enquanto o termo “Pai” era raríssimo!

Essa falta de referência paterna me resultou diversos problemas emocionais. Desde ansiedade a alguns medos e inseguranças estavam ligados à figura paterna, ou melhor, à sua ausência. Registro, porém, que minha mãe foi e é uma verdadeira gigante! Dentro de suas limitações, deu o seu melhor para criar seus 3 filhos. Como tive que “me virar sozinho” boa parte de minha vida, apeguei-me ao conhecimento como sinal de força e fundei minhas estruturas nessa característica. Isso fez de mim uma pessoa um tanto quanto arrogante, que odiava perder um debate e, por vezes, acabava por ser implacável e pouco tolerante com as pessoas. Por outro lado, esse “conhecimento” passou a agir contra mim mesmo, já que o meu excesso de questionamentos sobre meu estado de alma acabava por me colocar em uma espiral de pensamentos que em muito me angustiavam e confundiam. Pude entender, na própria pele, o que Salomão quis dizer quando escreveu: “Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento.” Pv 3:5

Embora eu já fosse salvo em Cristo Jesus, havia uma lacuna em minha alma, ligada diretamente à formação da minha identidade, que precisa ser tratada por Deus. Foi a partir desse cenário que o Senhor pegou em minha mão e me conduziu ao deserto da cura.

Quero deixar claro que Deus trata cada filho de forma individual e personalíssima, ou seja, o processo de cura de cada um é único, embora os princípios sejam os mesmos. Deus nos trata na medida certa do que precisamos ser tratados.

O primeiro passo pelo qual tive que passar foi o perdão. Antes de conhecer Jesus eu simplesmente não conseguia perdoar o meu pai. Após entender que mesmo sendo indesculpável diante de Deus pelos meus pecados Ele me havia perdoado, pude compreender a beleza do amor do Pai celestial e, então, compartilhar desse mesmo amor perdoador com meu pai terreno. Esse foi o 1º e importantíssimo passo para a restauração de minha alma. Hoje tenho um excelente relacionamento com o meu pai, e o amo com todo o meu coração!

Todavia, havia muitos pontos de minha identidade que tinham ficado doentes pela ausência paterna e que precisavam ser restaurados. Conquanto o relacionamento com o meu pai tenha sido reatado, eu não podia voltar no tempo de minha infância e inseri-lo lá, já que lá ele não estava. Assim, embora o perdão fosse indispensável, ele era apenas o 1º passo no processo de cura de minha alma.

Nesse bojo, o mais difícil para mim foi entregar o processo completamente nas mãos do Pai. Veja, como disse acima, minha grande “arma” sempre foi o conhecimento. O conhecimento te dá certo “controle” sobre algumas coisas, e esse pseudo controle supria, ou tentava suprir, em minha alma a falta da segurança advinda da figura paterna. Tive que me render, literalmente, diante do Pai e dizê-lo: “Entrego o controle em suas mãos! Conduza-me pelo processo que preciso passar, ainda que seja um vale, pois confio inteiramente que o Senhor é o meu Pai e me fará enxergar e viver o que preciso para ser completamente restaurado!”

Irmãos, como isso foi difícil para mim! Não que eu não confiasse em Deus, mas entregar o controle me trazia uma sensação de vulnerabilidade, e era justamente isso que o Pai queria tratar em minha alma, ou seja, que eu não precisava temer, afinal, o controle estava nas mãos Dele!

Nesse processo, o Pai tem me levado a conhecer as maravilhas de Seu coração!

Nos próximos artigos, continuarei compartilhando como a figura de Deus Pai pode suprir lacunas na alma geradas pela figura do pai paterno, trazendo alegria, felicidade, cura, e aquilo que mais buscamos: paz!

Não perca! Até o próximo artigo...

Hélio Roberto.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Religiosidade Homicida


Quando a religiosidade cega e mata!

Vivemos em um tempo em que a Palavra de Deus está acessível como nunca na História da humanidade. Bíblias disponíveis de forma gratuita por meio de diversas plataformas digitais e, quando impressas, adquiríveis a baixíssimos custos.

Por outro lado, parece que o entendimento da essência da mensagem de Cristo tem ficado, a cada dia, mais obscuro aos olhos de muitos. Semelhante ao tempo de Jesus, em que havia todo o Antigo Testamento disponível aos estudiosos das Sagradas Escrituras, no tempo presente dispomos, em aditamento, do Novo Testamento que traz luz aos escritos do Antigo Testamento. Ora, não deveria estar mais fácil o entendimento da Palavra em sua essência?

Parece-me que, não obstante tudo isso, a religiosidade desenfreada tem dado azo ao obscurantismo na mente de muitos quanto ao verdadeiro cerne da mensagem de Cristo, e é justamente na “Palavra de Deus” que se fundamenta toda religiosidade que afasta de nossos olhos a verdade de nosso Senhor.

Certa feita, Jesus curou dentro da sinagoga, num sábado, um homem que tinha uma das mãos ressequida. Foi-lhe, então, perquirido pelos fariseus presentes se era lícito curar no sábado (Mt 12:9-14). Veja que estes fariseus esqueceram, há muito, a essência do amor de Deus e se apegavam à sua própria religiosidade para atacar o Filho de Deus, tentando evitar que o milagre chegasse à vida daquele que tanto sofria com aquela enfermidade.

Jesus perguntou aos seus interpeladores se algum deles deixaria uma ovelha em uma cova, se esta lá caísse em um dia de sábado e, ato contínuo, complementa dizendo que muito mais vale um homem do que uma ovelha. Jesus, em seu maravilhoso amor, traz ao bojo daquele diálogo a essência da Palavra de Deus que dizia: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” Lv 19:18b

Logo após o homem ser curado, os fariseus se retiraram com o intuito de tramarem o assassinato de Jesus.

Gostaria de me ater um pouco mais nesse ponto, fazendo as devidas aplicações ao tempo presente. Veja, a religiosidade desses homens endureceu seus corações a tal ponto de o amor simplesmente não mais existir. Além disso, ao serem apresentados à verdadeira essência da mensagem de Deus, a religiosidade estava tão voraz que conspiravam em como matariam o Filho de Deus.

Trazendo esta questão aos dias de hoje, muitos irmãos vivem uma religiosidade de tal forma que, além de simplesmente não mais viverem o amor de Deus, acabam por “matar” a muitos dos que lhe cercam. Impõem peso sobremodo sobre a vida dos outros que o fardo passa a ser tão pesado que chegam a sucumbir.

A religiosidade é uma venda que cega os olhos espirituais sob a égide de um falso puritanismo, mas que, na verdade, não tem nada de divina. Dá mau testemunho de Cristo, massacra os oprimidos, não estende a mão aos caídos e, por fim, mata os fracos na fé. A religiosidade é uma assassina contumaz que clona fariseus aos dias presentes de modo que a luz do evangelho não resplandeça na vida de muitos.

Precisamos, desta feita, entender a verdadeira mensagem de Jesus; mensagem esta que resgata, ama, cura, socorre, transforma, alimenta, consola, protege e, sobretudo, salva! Somos sal da Terra e não sal de terra.

Que Deus nos abençoe grandemente, e que possamos olhar para as pessoas com os olhos de nosso Senhor Jesus, livres da religiosidade que mata!

Graça e Paz!

Hélio Roberto.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Onde foi que nos perdemos?


"Para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele". 1 Co 12:25,26


Ao observar a situação de algumas Igrejas, pus-me a refletir sobre onde foi que nos perdemos. Estamos inseridos em um sistema religioso que, não raramente, simplesmente ignora o que diz a Palavra de Deus. Sou um entusiasta da Igreja, mas isso não significa que não devamos corrigir o que está errado, e olha que os exemplos não são poucos.

Quero me ater, neste breve artigo, ao completo descaso da Igreja (falo em sentido amplo) à situação de calamidade que muitos de seus membros vivem. O que mais me deixa preocupado é que a origem disso tudo está no coração, ou seja, é a falta de amor e de priorização do ser humano em função do acúmulo de riquezas que faz, em muitos casos, que a Igreja (liderança e membresia) simplesmente ignore a necessidade dos irmãos.

Que evangelho é esse que simplesmente faz de conta que o irmão ao lado não está passando por terríveis necessidades? Que evangelho é esse que traz padrões desse mundo para auferir qual irmão deve ser ajudado e qual não deve? Que evangelho é esse em que as contas bancárias das Igrejas estão cada dia mais cheias e barriga de seus membros cada dia mais vazias? Que evangelho é esse em que o dinheiro se transformou num deus para muitos líderes? São perguntas que eu tenho me feito...

As Escrituras Sagradas dizem que na Igreja Primitiva (modelo deixado por Jesus) todos distribuíam suas riquezas aos Apóstolos e não faltava nada a ninguém. Veja: “Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha.” At 4:34, 35

O modelo da Igreja primitiva era o de entregar aos líderes doações e valores de modo que aqueles que padeciam necessidades pudessem ser supridos com responsabilidade pela liderança levantada por Deus. Hoje, continua-se depositando bens e valores aos pés das lideranças, mas, infelizmente, tem-se distribuído pouco dentre os membros que sofrem necessidades básicas.

O foco, hodiernamente, passou a ser templos e quantidade de membros, infelizmente! Todavia, de que adiante uma Igreja com 2.000 membros, se os 100 que lá estavam já não eram supridos em suas necessidades? Creio que o Senhor Jesus ficaria muito mais feliz com o cuidado dos 100, do que com 2.000 que não veem o amor da Igreja em suas necessidades.

A Palavra de Deus deixa claro que desagrada ao Senhor aquele que possui bens e, vendo seu irmão necessitado, nada faz. Esse texto é claríssimo: Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade. 1 Jo 3:17,18.

Esse texto deixa transparente que o amor de Deus não está no coração daqueles que tendo posses não ajudam seu irmão necessitado, e eu penso que essa também é uma obrigação da Igreja (como centralizadora dos recursos). É que, segundo apregoa a Palavra de Deus, não é o seu tempo de crente, ou a altura do seu aleluia, ou os dons que você exerce, tampouco a quantidade de membros de sua Igreja, ou mesmo quantas vezes você leu a Bíblia que evidencia o amor de Deus em você, mas sim o amor e cuidado pelo pequenino, evidenciado pelo compartilhar aquilo que Deus nos deu (porque foi Ele quem deu) com os mais necessitados, às vezes despercebidos, sentados no banco ao lado em nossas Igrejas.

Há sempre a justificativa de que a situação que o irmão está passando é responsabilidade dele, e não da Igreja. Talvez seja verdade, mas com toda certeza isso em nada exime a obrigação, diante de Deus, que a Igreja tem de suprir as necessidades dos seus membros. São tantas as obrigações administrativas e financeiras que já não se prioriza mais o cuidado aos irmãos. Sem nenhuma hipocrisia (é muito bom ter Igrejas com estruturas confortáveis), mas será que não agradaria muito mais ao Senhor Jesus destinar o dinheiro da Igreja aos membros necessitados, ainda que para tal fosse necessário congregar debaixo de uma tenda ou até mesmo reduzir os gastos com a estrutura da Igreja (reduzir aluguéis, quantidade de funcionários, ir para um local menor, mais barato ou em um bairro mais acessível) de modo que sobrasse recursos para suprir os irmãos necessitados? Penso veemente que Jesus está muito mais interessado nas pessoas (seus filhos, sua verdadeira Igreja) do que com estruturas. Infelizmente, muitos não conseguem ver isso!

Respondendo à pergunta que levou o título desse artigo: Onde foi que nos perdemos?

Nós nos perdemos quando nosso coração deixou de amar e passou a buscar seus próprios interesses, sejam eles quais forem. Nos perdemos quando a cifra bancária passou a ser mais importante que o irmão ao lado, com barriga vazia e ameaçado de despejo ou doente precisando de recursos para o tratamento. Nos perdemos quando a quantidade de membros passou a ser o objetivo-mor de nossas Igrejas, e não o cuidado dos que lá estão. Nos perdemos quando passamos a ler a Bíblia de forma seletiva, vivendo apenas o que nos agrada. Nos perdemos em meio a motivações mundanas que inundam nossos corações, cegam nossos olhos e enegrecem nossas almas, de modo que a dor de nossos irmãos já não nos afeta mais.

Que nosso Senhor Jesus nos ressuscite e traga o Seu amor para dentro de nós, de maneira que a dor de nossos irmãos seja a nossa dor, e a alegria de nossos irmãos seja a nossa alegria!

Graça e Paz!

Hélio Roberto.

Fonte: Artigo escrito para o site GospelPrime.